sábado, 23 de julho de 2011

Estacionamento-parque ou parques com estacionamento com pisos permeáveis


Estacionamento-parque: qualificação paisagística



fonte: http://www.revistatechne.com.br/Edicoes/116/artigo35396-1.asp

Autores: Ricardo de Sousa Moretti PUC Campinas ricardo.moretti@ajato.com.br e  Nelia Miyuki Nishihata PUC Campinas nelianishihata@gmail.com





Figuras 1 e 2 - Estacionamento com piso permeável e uso intensivo
 de vegetação, em pousada na cidade de Pirenópolis (GO)


Identificam-se boas perspectivas de aperfeiçoamento do projeto dos estacionamentos de veículos, em especial quanto à implantação dos "estacionamentos- parque", com uso intensivo de arborização e parte significativa de área permeável. Esse tipo de estacionamento associa a possibilidade de redução de custos, pois a pavimentação e o sistema de captação e condução das águas pluviais constituem usualmente os itens de maior impacto na composição dos custos totais das obras de urbanização e infra-estrutura, em especial nos empreendimentos destinados ao uso residencial. Por outro lado, são possíveis soluções de forte potencial paisagístico, que tornam mais agradáveis os estacionamentos e agregam valor aos imóveis. Finalmente, os estacionamentos com pisos permeáveis e uso intensivo de vegetação podem trazer uma contribuição em sustentabilidade, com ênfase na prevenção das enchentes, redução das ilhas de calor, recarga dos aqüíferos subterrâneos e manutenção das vazões dos cursos d'água nas épocas de seca.

As áreas impermeabilizadas para execução de estacionamentos representam parcela expressiva do total de áreas impermeabilizadas de um empreendimento. Em projetos de prédios sem elevador, com estacionamento descoberto, a impermeabilização do solo para esse fim resulta em áreas que chegam a ser 40% superiores àquelas necessárias para a produção da edificação. Alguns municípios já incorporaram exigências relativas à utilização de pisos permeáveis em estacionamentos, como no caso de São Paulo e restrições de vazões decorrentes da implantação de novos empreendimentos, como nos casos de Porto Alegre e Curitiba.






Figura 3 - Infiltração das águas pluviais captadas nos locais

 impermeáveis do estacionamento através de camadas 
drenantes situadas entre as vagas



A utilização intensiva de vegetação e arborização associada aos pisos permeáveis nos estacionamentos vem ao encontro do atendimento das exigências legais que, gradativamente, deverão ser regulamentadas por um número crescente de municípios. Pretendese apresentar, neste artigo, os potenciais de incorporação desses conceitos na melhoria das condições paisagísticas do empreendimento.




Estacionamentos nos grandes empreendimentos







Figura 4 - Estacionamento de automóveis em campus universitário,
no município de Campinas, com predomínio das superfícies
pavimentadas

Pode-se reduzir significativamente o total de áreas impermeabilizadas nos estacionamentos de grande porte sem comprometimento significativo do conforto do usuário. A utilização de pisos que permitem a infiltração de água de chuva é especialmente promissora nas áreas em que ficam estacionados os veículos. Mesmo que se pavimentem as áreas em que circulam os veículos, a mescla de áreas impermeáveis com permeáveis possibilita que, em alguns casos, seja possível inclusive suprimir as canalizações de água pluvial. Nos casos em que se prevê dificuldade para infiltrar toda a água de chuva nas áreas permeáveis, pode-se recorrer às estruturas de infiltração subterrânea, como exemplo, às trincheiras drenantes ou às camadas drenantes na forma de colchões (vide figura 3).
Ao reduzir as áreas impermeáveis melhora-se a condição de desenvolvimento da vegetação, que por sua vez contribui para a retenção da água de chuva antes que a mesma atinja o solo. Tem-se a possibilidade de fugir do círculo vicioso de impermeabilização,drenagem, ilhas de calor e de pequeno desenvolvimento da vegetação, para uma outra condição que favorece o desenvolvimento da vegetação, que por seu turno, contribui para a retenção e infiltração da água de chuva precipitada.









 



Figura 5 - Projeto geométrico de um setor do estacionamento do 

shopping - situação atual










































Figura 6 - Estacionamento do shopping - alternativa de projeto 1. 
Mantém-se a disposição geométrica original e apenas substitui-se 
o pavimento impermeável existente nas vagas de parada, por um 
pavimento permeável



Para dois estacionamentos de grande porte já implantados no município de Campinas (SP), apresentamse e comparam-se alternativas de projeto que buscam incorporar os conceitos de piso permeável e de utilização intensiva de vegetação. O primeiro deles é um setor do estacionamento de um shopping situado junto à Rodovia Dom Pedro, que abriga 1.550 vagas.O segundo,para 384 veículos,está em um campus universitário, situado junto à mesma rodovia (vide figura 4).





Estudo de caso - Estacionamento de shopping








Figura 7 - Estacionamento do shopping - alternativa de projeto 2. 
São criadas circulações exclusivas para pedestres



No projeto geométrico mostrado na figura 5 as vagas foram dispostas ortogonalmente às vias de circulação de veículos. Tanto a via de circulação, que tem largura de 6 m, quanto o local para estacionamento (cada vaga tem 2,4 x 5,0 m) são pavimentados. Não são previstas calçadas para circulação de pedestres, que se deslocam na própria via de veículos. O arranjo geométrico tem como proposta central maximizar o número de vagas.As águas pluviais são captadas em bocas-de-leão e conduzidas por tubulações subterrâneas para o ribeirão, situado imediatamente junto ao terreno do shopping.Para esse estacionamento é apresentada a proposta geométrica alternativa 1, que é apresentada na figura 6, em que se mantém a mesma disposição geométrica, porém altera-se o piso no local de parada dos veículos. O mesmo número de vagas é mantido nessa proposta,porém não se equaciona o problema anteriormente apontado de circulação de pedestres na mesma área destinada para circulação de veículos.





Na alternativa de projeto 2, apresentada na figura 7, são criadas áreas para circulação exclusiva de pedestres, que melhoram as condições de conforto e de segurança. Essas vias de pedestres, em alguns pontos, circulam entre bosques. Na concepção proposta, alguns desses bosques receberiam a denominação da espécie arbórea predominante. Na proposta geométrica buscou- se assegurar que seja mínima a distância percorrida pelo pedestre até uma superfície calçada com material contínuo, impermeável, de forma a evitar os incômodos associados à circulação sobre piso permeável.
Verifica-se que é possível reduzir a menos da metade a área impermeabilizada, praticamente sem redução do número de vagas de estacionamento.Com relação ao conforto, deve ser levado em conta, por um lado, o aspecto positivo de estacionar na sombra e de caminhar em uma área arborizada. Por outro lado, existe o desconforto do pedestre transitar sobre piso permeável, que foi minimizado pela pequena extensão dos percursos, sempre inferior a 3 m.






Figura 8 - Estacionamento do shopping - situação atual






Figura 9 - Estacionamento do shopping - alternativa de projeto 2








Estudo de caso - estacionamento de campus universitário


No projeto geométrico, mostrado na figura 10, tem-se um canteiro central que é destinado ao estacionamento. Também são previstas vagas para parada de veículos, dispostas a 45º, ao longo das duas avenidas que circundam o canteiro central. Para esse estacionamento é apresentada a alternativa de projeto 1,mostrada na figura 11,em que se mantém a posição das duas avenidas, porém substitui-se a pavimentação asfáltica por piso drenante, nas áreas de parada dos veículos.






Figura 10 - Projeto geométrico de estacionamento; campus
 universitário - situação atual 





Figura 11 - Estacionamento do campus universitário - alternativa de
 projeto 1 




Figura 12 - Estacionamento do campus universitário - alternativa de
 projeto 2

Na alternativa de projeto 2, a circulação de veículos fica toda concentrada em um dos lados do terreno,melhorando as condições de segurança e conforto dos pedestres.Nos bolsões de estacionamento, tanto o local de estacionamento quanto o de parada dos veículos é executado com piso drenante. Cria-se um passeio de circulação de pedestres entre as vagas, de forma a reduzir o percurso do pedestre em piso drenante.






Verifica-se, nas alternativas de projeto para o estacionamento do campus universitário, a ampliação da área permeável e, simultaneamente, a ampliação do número de vagas de estacionamento e de árvores plantadas. A redução da área impermeabilizada implica a redução dos gastos com pavimentação e com o sistema de drenagem das águas pluviais. Se for adotada uma solução de piso permeável que tenha custo inferior ao da pavimentação, pode-se chegar a uma economia significativa, à qual se somam os ganhos ambientais.


Estacionamento na habitação


































Figura 13 - Estacionamento do campus universitário - situação atual


Nas residências unifamiliares ou nos pequenos grupos de habitações identifica-se a possibilidade de utilização de estruturas ou pérgulas, sobre as quais se plantam trepadeiras.
Para dar suporte à planta e também para a proteção dos carros enquanto as plantas estão em desenvolvimento pode-se fazer a cobertura da estrutura com tela, tipo sombrite. Esse tipo de tela, que tem preço da ordem de R$ /m2 evita a queda de galhos, flores, frutos e sujeira de pássaros. Sua utilização contribui para o sombreamento e reduz os riscos de impacto associados às chuvas fortes de granizo.
Na direção do paisagismo produtivo, podem ser plantadas espécies frutíferas, como maracujá, tamarindo e lichia americana.





Figura 14 - Estacionamento do campus universitário - alternativa de
 projeto 1 Figura 15 - Estacionamento executado com trepadeiras 
sobre estrutura de madeira





Justificam-se os esforços na direção da mescla entre áreas permeáveis e impermeáveis, nas áreas de estacionamento, também na habitação. Pequenas faixas gramadas têm uma eficiência elevada para a infiltração da água de chuva resultante de chuvas moderadas. Mesmo se forem limitados os resultados na prevenção das grandes enchentes, existe um papel importante quanto à recarga dos aqüíferos subterrâneos.

Pisos que permitem a infiltração da água de chuva no solo



Apresentam-se adiante algumas alternativas de pisos permeáveis, que permitem a infiltração da água de chuva no solo: grama; blocos de concreto vazados com intercalação de pedra ou grama; asfalto ou concreto poroso sobre camada de pedra britada (pavimento permeável); grama sobre colméia plástica;  camada de pedra britada sobre solo.































Figuras 16 e 17 - Estacionamentos residenciais em que é feita a 
mescla de superfícies permeáveis e não permeáveis

O tratamento de piso chamado "pavimento permeável" é constituído por asfalto ou concreto poroso, executado sobre camada de pedra britada.Na parte superior e inferior da camada de pedra é colocado geotêxtil, para prevenir a sua colmatação. Nesse tipo de piso a água se infiltra pela superfície, fica retida na camada de pedra e gradativamente se infiltra no solo. Estudos realizados pelo IPH (Instituto de Pesquisas Hidráulicas), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, demonstram resultados especialmente promissores para essa solução (Acioli, 2005). Nas análises até então realizadas tem se viabilizado a infiltração no solo de praticamente toda a água de chuva precipitada. A eficácia dessa solução, porém, depende de uma boa manutenção da superfície do pavimento, para garantir que se mantenha sua permeabilidade. Essa manutenção pode ser feita com a utilização de equipamento que aspira a sujeira existente na superfície porosa.





Figura 18 - Piso de bloco de concreto vazado, 
preenchido com grama



Figura 19 - Grama plantada em estrutura alveolar plática 



A utilização de grama plantada sobre solo, como revestimento da área de parada de veículos, se viabiliza quando é baixa a utilização do estacionamento e a vaga permanece desocupada durante longos períodos.A grama é afetada pelo calor excessivo oriundo do motor do veículo e pelo peso das rodas, que provocam a compressão e abafamento das raízes.Porém,para uso esporádico e ocasional, a solução é possível. Existe a possibilidade de fazer o calçamento do local destinado à roda do veículo, como foi mostrado na figura 17. Esse tipo de solução pode inclusive superar a dificuldade associada à circulação de pedestres que se utilizam de calçado com salto fino,que é uma das limitações relacionadas ao uso de grama nos pisos dos estacionamentos. Identificase a conveniência de realizar um estudo experimental de avaliação do desempenho de grama plantada sobre camada de solo orgânico-brita. Supõe-se que o material orgânico presente nos interstícios da pedra possibilite alimentação para as raízes da grama e que o arcabouço, constituído pela pedra britada,possa absorver e transmitir as cargas das rodas, evitando o esmagamento das raízes. O percentual de pedra britada deve ser da ordem de 70% em peso, para viabilizar a transmissão das cargas oriundas das rodas do veículo através das pedras, permitindo que as raízes da grama se desenvolvam nos vazios existentes entre as pedras, onde se encontra o material orgânico.O piso de bloco de concreto vazado, preenchido com pedra britada ou grama, é uma solução que apresenta como principal limitante o custo de implantação, relativamente alto.





Figura 20 - Pavimento permeável, em que a água infiltrada 
no revestimento fica retida temporariamente na base constituída
 por pedra e é gradativamente infiltrada no subleito

A execução de camada de pedra britada sobre o solo é uma solução relativamente simples e econômica. Dependendo da espessura da camada de pedra tem-se um efeito semelhante àquele que foi descrito na solução anterior, de pavimento permeável, ou seja, parte da água precipitada fica retida na camada de pedra e gradativamente se infiltra no solo.Uma das dificuldades da solução é a manutenção, em especial as atividades de remoção da vegetação que se desenvolve nos interstícios da pedra.


Considerações finais

A exemplo do que hoje já acontece em municípios tais como Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e Santo André, deverão se ampliar e generalizar as exigências de piso permeável e de retenção temporária das águas de chuva.Na perspectiva de redução das áreas impermeáveis e de ampliação da infiltração da água de chuva no subsolo identificam-se possibilidades promissoras de aperfeiçoamento dos projetos dos estacionamentos. Os estudos até então realizados mostram que este aperfeiçoamento pode perfeitamente compatibilizar o conforto do usuário, a redução dos custos e a melhoria das condições ambientais, em especial no que diz respeito a novos patamares de qualidade paisagística.